Imagem do filme "Um lugar silencioso" de John Krasinski - 2018.
A Igreja nos tempos atuais ecoa o que há de pior no mundo, e não é diferente em relação aos ruídos. Infelizmente nestes tempos difíceis, a Igreja "em saída", que vai em busca - e não mais seduz -, encontra o que há de pior e não dá mais o que tem de melhor ao mundo, e com isso, tende-se a cada vez mais abrir-se para o ruidoso e o hostil arrombá-la porta a dentro; quando era preciso, e sempre foi, ser luz nas trevas, e nesta travar a luta que persiste e persistirá até o fim dos tempos.
O ruído, tão desejado por Satanás e sua legião, assusta os que tem sensibilidade e alegra a loucura caótica, "nonsense", de gente que não se preocupa com a verdade, devorando-as num mundo cada vez mais relativista.
As nossas Missas estão muito ruidosas, salvas algumas exceções em que padres piedosos e comunidades preparadas a celebram corretamente.
Relato a seguir a minha experiência com tais ruídos:
O ruído já começa meia hora antes com os músicos ensaiando os cantos, muitas vezes com instrumentos "pesados" como percussão, bateria, contra-baixo; sem contar os próprios cantos que muitas vezes se confundem ritmicamente com músicas mundanas de forró, baião, rock, e por aí vai. Logo após, o canto de entrada começa a todo vapor com viradas de bateria e slappings de contra-baixo.
Não acabando o pesadelo sonoro, o canto de "Ato Penitencial" é uma verdadeira penitência, onde os cantos mais dispersam que interiorizam. Não dá nem fôlego e já entona-se o "Glória". Parece que aqui a coisa ferve de vez; aí todo mundo cai num alvoroço só, com palmas, agitando as mãos pra cima, o som alto, e por fim encerra-se com o "Ôoooreêemooooooss!" que quebra o gelo do show. Mas por pouco tempo.
O resto da Missa prossegue com mais ruídos e também com poluição visual. Desta vez, pessoas entram com cartazes e alguns "personagens" de "não sei o quê" ao som de sanfona e triângulo, quando de repente entra uma senhora com saia cumprida e espalhafatada - estilo mãe de santo - com uma peneira adornada com fitas coloridas, dançando e cantando, carregando no tal "balaio" o Lecionário. Palmas e mais palmas calorosas quando o padre a recebe trazendo consigo a palavra de Deus. Acaba o carnaval, a rainha da escola de samba sai sorridente (pensando que prestou um ótimo serviço a Deus) abanando o seu vestidão e limpando o suor da testa devido ao gingo da dança.
A assembléia se assenta para ouvir a primeira leitura e eu ainda ouço o zunido nos meus ouvidos a me pertubarem.
O salmo é cantado mais solenemente, meus ouvidos se sentem melhor, mas o canto é muito dispersivo, com melodias que mais parecem um teste de "The Voice" ou coisa parecida.
Segunda leitura: Há um alívio novamente.
Termina a segunda leitura e começa outro momento de agitação: É o "Aleluia".
O padre então inicia o santo Evangelho; o meu coração palpita, e quando o termina, uma saraivada de palmas ensurdecedoras (nessa hora, as crianças de colo são despertadas com o barulho do show de calouros). Acalmo-me e sento para escutar a homilia. Começa o converseiro novamente e as crianças - que acabaram de sair do estado de dormência - começam a gritar. Algumas mães quase que amarram os enfurecidinhos no banco, enquanto outras, mais sensatas, vão para fora com suas criaturinhas frenéticas.
Inicia-se o "Creio em Deus Pai" depois de uma homilia em que foi possível pegar uma coisa ou outra em meio a tanto zum-zum-zum.
O resto da Missa segue com mais barulho nos momentos do "Ofertório" e do "Santo". Então chega o momento da "Paz de Cristo" - não sei porque ainda insistem nisso - e o "pau quebra" outra vez!
Incia-se o "Cordeiro" - ainda vejo pessoas se cumprimentando dando a "paz" umas as outras.
Começa o canto de comunhão e o pessoal da música - dessa vez - se comporta melhor, mas não por muito tempo. Bastou o padre encerrar a Missa e a "pancada" musical desceu pesada outra vez.
Dessa vez foi o
Volto pra casa chorando com dores de cabeça e vou correndo para o meu cantinho de oração. Lá eu coloco o canto gregoriano bem baixinho, vislumbro a imagem de Nossa Senhora do Rosário, rezo e agradeço a Deus pelo domingo. Termino traçando o sinal da cruz.
É vida que segue. Domingo que vem tem mais "penitência" sonora e visual.
Eu sou Católico fiel, eu aguento. Mas há um lugar silencioso e sem ruídos na Igreja?