domingo, 28 de julho de 2013

A Ira - "Os oito vícios capitais" por Evágrio Pôntico

Continuação da série "os oito vícios capitais"

Vimos nos capítulos anteriores a respeito da Gula, da Luxúria e da  Avareza. Neste próximo capítulo veremos a doença espiritual (ou pecado capital) da Ira.



IV. A Ira
Capítulo 9

A ira é uma paixão furiosa que, com freqüência, faz perder o juízo àqueles que têm o conhecimento, embrutece a alma e degrada todo o conjunto humano.
Um vento impetuoso não derruba uma torre e a animosidade não arrasta a alma mansa.
A água se move pela violência dos ventos e o homem irado se agita pelos pensamentos irracionais. O monge irado vê alguém e range os dentes.

A difusão da neblina condensa o ar e o movimento da ira torna nublada a mente do irado.
A nuvem que avança ofusca o sol e, assim, o pensamento rancoroso entorpece a mente.
O leão na jaula sacode continuamente a porta tal como o violento, em sua cela, quando é acometido pelo pensamento da ira.
É deliciosa a vista de um mar tranqüilo, porém, certamente não é mais agradável que o estado de paz; com efeito, os golfinhos nadam no mar calmo e os pensamentos voltados para Deus emergem um estado de serenidade.

O monge magnânimo é uma fonte tranqüila, uma bebida agradável oferecida a todos, enquanto que a mente do irado se vê continuamente agitada e não dará água a quem tem sede e, se a der, será esta turva e nociva; os olhos do irado estão arregalados e cheios de sangue, anunciando um coração em conflito. O rosto do magnânino mostra tranqüilidade e os olhos benignos estão voltados para baixo.

Capítulo 10

A mansidão do homem é lembrada por Deus e a alma pacífica se converte no templo do Espírito Santo.
Cristo recosta sua cabeça nos espíritos mansos e apenas a mente pacífica se converte em morada da Santa Trindade.

As raposas montam guarda na alma rancorosa e as feras se agasalham no coração rebelde.
O homem honesto se afasta das casas de mal conduta e Deus [se afasta] de um coração rancoroso.
Uma pedra que cai na água a agita, tal como um discurso maligno no coração do homem.

Afasta da tua alma os pensamentos de ira, não permita a animosidade no recinto do teu coração e não te perturbes no momento da oração; efetivamente, como a fumaça da palha ofusca a visão, assim a mente se vê perturbada pelo rancor durante a oração.

Os pensamentos do irado são descendentes das víboras e devoram o coração que lhes gerou. Sua oração é um incenso abominável e seus salmos emitem um som desagradável.
A oferta do rancoroso é como um doce cheio de formigas que certamente não encontrará lugar nos altares aspergidos pela água benta.

O irado terá sonhos perturbadores e se imaginará assaltado pelas feras. O homem magnânimo, que não guarda rancor, se exercita com discursos espirituais e, durante a noite, recebe a solução dos mistérios.

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